Revista APM

  • Home
  • ACADEMIA
  • Revista APM
  • Revista N3 - 2023

Revista APM - N3 • 2023 - Editorial

Capa Revista 03

A Academia Paraense de Música apresenta o terceiro número de sua Revista anual. Impasses administrativos levaram ao adiamento desta publicação; mas finalmente ei-la mais uma vez concretizando a convergência de finalidades do Estatuto da APM, seja de cultivo da música no Pará, seja de preservação de sua memória, publicização de resultados de pesquisas e estudos científicos a seu respeito, entre outras finalidades estatutárias.

Este n. 3/ 2023 da Revista da APM, intitulado “Saberes e práticas musicais no Pará”, consiste em um dossiê sobre a pesquisa local em Etnomusicologia. Esse campo de pesquisa teve como seu grande precursor, local e regional, Vicente Salles, de reconhecida e saudosa memória para todo pesquisador que se preze. Tratando-se especificamente de “música como cultura” ou sobre “música em seu contexto”, a Etnomusicologia vem crescendo em Belém por cerca de duas décadas, especificamente na Universidade Federal do Pará e na Universidade do Estado do Pará. Isto graças a ações pioneiras de nomes como os dos professores pesquisadores Dra. Liliam Barros Cohen, Dr. Paulo Murilo Guerreiro do Amaral e Dra. Sonia Chada, líderes de grupos de pesquisa que reúnem outros professores pesquisadores e jovens estudantes de graduação e de programas de pós-graduação. Suas iniciativas, somadas a de outros colegas daquelas duas respeitáveis IES públicas, tornam Belém um celeiro de etnomusicólogos.

Para este primeiro dossiê em Etnomusicologia da Revista da APM, foram selecionados sete artigos.

O artigo de abertura intitula-se “A clarineta na obra de compositores de Belém a partir do século XIX” e tem como autores Marcos Cohen, Herson Amorim e Thiago Lopes. O texto descreve um panorama histórico da paisagem musical de Belém, em busca de pistas sobre a produção composicional local para clarineta. Mas essa produção só despontará com alguma intensidade neste último século. O texto ainda apresenta um rico quadro que reúne compositores e suas obras que incluem a clarineta.

O artigo seguinte, “O Cordão de Peixe-boi do Instituto Arraial do Pavulagem: aproximações e mediações a partir da prática musical”, escrito por Tainá Magalhães, é um recorte de sua tese de doutorado. Consiste em uma investigação etnográfica de um fenômeno cultural sobre o qual a pesquisadora, já sendo por anos uma brincante daquela manifestação, pretendeu, a partir da observação participante entre os anos de 2018 e 2023, trazer à compreensão elementos de transmissão cultural ali presentes. Os resultados revelam riqueza de aspectos reunidos por meio da história oral, apontando temáticas, práticas musicais e uma “pedagogia do compartilhamento” promovida pelos mestres.

“A música dos Pássaros Juninos, Cordões de Pássaros e Bichos no Pará”, de Rosa Silva, é o terceiro artigo deste número. O percurso acadêmico de pesquisa da autora tem sido marcado pela investigação etnográfica dessa manifestação junina própria do Pará, mas também presente em outras localidades da região amazônica. Silva relata, a partir de suas observações de ensaios e espetáculos, bem como de entrevistas com brincantes e músicos de grupos de Pássaros Juninos, recortes que permitem “compreender como é construída, encenada e transmitida sua história e sua prática musical”.

O próximo artigo, “Música de resistência na Amazônia: o punk rock feminista da banda Klitores Kaos”, é fruto da pesquisa de doutorado da cantora e compositora Keila Monteiro. Neste texto, vários aspectos sociais e musicais são tratados no âmbito da cena musical feminista local, a partir da música de resistência daquela banda. Resultados da pesquisa aqui relatados “apontam uma produção de protesto, um ‘grito’ de combate ao feminicídio, ao machismo, à misoginia e ao racismo com tomada de espaços por mulheres e o crescente respeito pelo gênero feminino na cena do punk rock hardcore [punk/hc]”.

“O Guitarrar Local: A formação da cena musical da guitarrada no Pará”, de autoria de Saulo Caraveo e Sonia Chada, aborda a versão instrumental - protagonizada pela guitarra - da lambada, gênero musical paraense influenciado pelo carimbó, merengue e pela cúmbia. O texto destaca Mestre Vieira como um dos fundadores da guitarrada e profícuo compositor nesse estilo musical, enquanto investiga respostas à pergunta: “Como se desenvolveu a cena musical da guitarrada no Pará?”. A pesquisa etnográfica realizada de 2017 a 2023, sinaliza resultados em que é possível, nas palavras dos autores: “vislumbrar um conjunto de interações, trocas e de saberes que se estabelecem [...] diante da prática musical da lambada/guitarrada desde a sua fundação no fim dos anos de 1970 até os dias atuais”, que conduziu à consolidação da “cena musical da guitarrada” no Pará “como uma forma particular de se tocar guitarra elétrica no Norte do Brasil”.

Como última manifestação musical urbana contemporânea apresentada por este dossiê se encontra “O brega cibermórfico de Wanderley Andrade: pontos de inflexão no mercado musical contemporâneo”, com autoria de Frank Sagica e Sonia Chada. Para a interpretação dos resultados da pesquisa etnográfica em torno de Wanderley Andrade, quanto à “sua produção, sua adaptabilidade e suas articulações nas principais plataformas digitais, meios midiáticos, interfaces de criação de conteúdo, bem como suas influências e apropriações estéticas ao longo de sua trajetória no mercado musical no Brasil”, os autores estabelecem discussões sobre termos, como: “local”, “global” e “glocal”; “modernidade”, “modernismo” e “modernização”; “passado-presente”; e, claro, sob o olhar teórico-metodológico do hibridismo cultural de Nestor Garcia Canclini.

Optou-se por fechar este dossiê com o artigo “O Laboratório de Etnomusicologia da Universidade Federal do Pará”, escrito por Sonia Chada, Liliam Barros Cohen, Adriana Couceiro e Jucélia Estumando. No artigo, as autoras demonstram como o LabEtno - sigla pela qual aquele Laboratório é mais conhecido - consiste, de fato, há mais de uma década, em um espaço de produção de conhecimento em Etnomusicologia, cuja ação difusora se estende à região amazônica, às demais regiões do Brasil e mesmo ao âmbito internacional, em face da circulação de artigos com resultados de pesquisas ali geradas e desenvolvidas. Portanto, não deve surpreender o fato de os artigos deste dossiê terem ali sua origem e orientação - o que não restringe a produção ao âmbito da Universidade Federal do Pará, uma vez que o LabEtno integra, na abrangência local, pesquisadores da Universidade do Estado do Pará.

Cabe destacar, sobretudo, do exposto pelas autoras, os importantes e fundamentais efeitos da criação e funcionamento do LabEtno, que podem ser traduzidos em “uma ampliação do conceito de música, do fazer, da criação e da transmissão musical, assim como a percepção da diversidade musical existente e, por conseguinte, uma quebra de paradigmas no ensino de música e de artes no estado paraense”.

A Academia Paraense de Música se sente honrada em acolher, por meio dos artigos acima resumidamente apresentados, a “paleta” de manifestações que compõem a cultura musical gerada e desenvolvida no Pará, e já difundida em outros espaços geográficos. Nossa gratidão aos autores-pesquisadores pela construção da memória musical vivida neste Estado e por concederem o seu registro neste dossiê e publicação no n. 3/2023 da Revista da APM.

Belém do Pará, Círio de Nossa Senhora de Nazaré de 2024.

Gilberto Chaves
Presidente do Conselho Editorial

Revista APM - N3 • 2023 - Arquivos

Disponibilizamos abaixo o arquivo em pdf da revista para leitura em tela e download:

[+] Revista APM - N3 • 2023 - Leitura em Tela.
(Use seu dispositivo na Vertical para uma melhor visualização)

[+] Revista APM - N3 • 2023 - Download PDF.

[+] Fotos do Lançamento da Revista APM - N3 • 2023.

- Aproveite siga nossa redes sociais (@academiaparaensedemusica), marcando, comentando e compartilhando nossa revista.

Entidade Civil de Utilidade Pública do Estado do Pará, sem fins lucrativos.

  • Segunda à Sexta: 09h às 16h